quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Recensão crítica de José Esperança


<Lugar D'Avós
. Foi uma viagem extraordinária a um passado que se viveu durante os anos quarenta até ao início dos anos oitenta. De uma forma simples, mas com forte carga emocional, as histórias fluem com a suavidade de um ribeiro na serra. É agradável viajar até um tempo que não volta mais. Eu vivi de certa forma também esses momentos, embora em outra região de características bem diferentes. Tenho saudades dos cheiros, das carroças, da simplicidade e riqueza de uma forma de viver que não volta mais.
O teu livro tem uma ternura extraordinária. A descrição de todos esses momentos vividos, (partindo do principio que a memória foi bem "seduzida", usando uma expressão do livro na parte inicial), leva-nos a conhecer, de um certo prisma que é o teu, um casal que vive num paraíso, em verdadeiro contacto com a natureza e aos olhos dos dias de hoje, pode-se aplicar a expressão muito "new age", em contacto e harmonia com o universo…

O livro teve um forte prefácio, que foi a peça de teatro. Em mim, que assisti à peça, logo que cheguei a casa iniciei cheio de curiosidade a leitura ávida do livro. Apesar do tema principal já ser conhecido, devido ao momento teatral, a leitura revela-nos outros segredos e uma perspetiva mais íntima dos acontecimentos nesse Verão.

Tem passagens extraordinárias e de uma riqueza etnográfica imensa. Pela forma singela com que escreves e descreves esse Verão de férias terapêuticas. Na minha maneira de ver, começas de uma forma simples, indo no decorrer da obra elaborando progressivamente a forma de escrita e evidenciando o confronto Pai/Avô.

Talvez pretendas justificar a tua preferência pelo teu avô, colocando acima de teu pai? Se somente relembrarmos as coisas menos boas de uma pessoa ou relação é fácil sobrepormos outra relação onde não façamos esse exercício.

E se tivesses ficado na quinta? Certamente que esse lugar mágico, tal ilha de Avalon envolto em brumas, perderia parte da magia... certo? E tu serias uma pessoa diferente, se calhar sem o extraordinário percurso que fizeste.

Mas, a verdade é que viveste e esses momentos, que certamente foram determinantes no teu caminho. Provavelmente estabelecendo um trilho (que me perdoe o idiota do Skinner, pois eu acredito em trilhos na vida), que foi permitir um aumento da tua sensibilidade e superior capacidade de análise. Pois viveste o confronto entre dois mundos bem reais e conseguiste encontrar um caminho entre os dois.

Foi um prazer ler este livro! Foi de facto uma viagem no tempo e na história! Ainda bem que colocaste em forma escrita e o partilhaste com aqueles que tenham a sensibilidade de entender a Alma da natureza e a sua poesia.

"...quero ensinar-te o que são momentos felizes"

"...era uma vez um Bispo, não sei mais que isto"

Um abraço>>

José Manuel Esperança

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Teatro Lugar d'Avós










Lançamento Lugar d'Avós







Em doze de novembro no Casino da Trafaria foi feito o lançamento da obra do mangualdense Carlos Alfredo do Couto Amaral, intitulada: Lugar d’Avós. A abrir, o público assistiu à representação da peça adaptada da obra homónima, levada à cena pelo GITT e encenada pelo próprio autor.

O evento prosseguiu com a apresentação feita por Ângelo Rodrigues – representante das Edições Colibri. O mesmo destacou que esta obra representa um espaço de recobro, a partir de umas férias grandes do verão de 1972, por um rapaz de doze anos. O apresentador destacou também a ligação do autor à filosofia de Nietzsche, citando que a escrita mais verdadeira é a que é feita a partir do próprio sangue, neste caso remetendo para o retrato biográfico em torno das memórias recuadas.

Quanto ao autor preferiu homenagear toda a equipa que participou neste projeto, destacando as vinte e duas gravuras do artista plástico visiense, Paulo Medeiros. Destacou ainda que uma obra será comunicativa se espelhar, de algum modo, a realidade de cada um, permitindo-lhe observar-se ao espelho da narrativa.

O evento terminou com um beberete comemorando em simultâneo os quarenta e cinco anos do grupo de teatro GITT. O espaço do antigo Casino reanimou-se com a multidão que ocorreu.

Enfim podemos dizer que aconteceu o primeiro passo da entrega de Lugar d'Avós ao público. Agora há toda uma caminhada a fazer, pois o romance fica inconcluso enquanto não encontrar os seus leitores...

Gravuras de Paulo Medeiros para Lugar d'Avós




terça-feira, 7 de novembro de 2017

terça-feira, 31 de outubro de 2017

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

  1. Estão todos convidados para a peça de teatro, estreia dia 10 de novembro às 19 horas, onde adapto o meu romance Lugar d'Avós.  😊 O lançamento do livro será no dia 12 de novembro às 18 horas no Casino da Trafaria -- cartaz de Paulo Nunes --

sexta-feira, 20 de outubro de 2017


Lugar d’Avós é um romance, biográfico ficcionado, de Carlos Couto Amaral, trazido a público pelas Edições Colibri, onde são recuperados mundos perdidos (etnográficos), e estórias familiares insólitas. A trama aborda as férias terapêuticas, em 1972, de um rapaz junto dos avós numa quinta de Mangualde, na Beira Alta, o que lhe permitiu ultrapassar os maus-tratos paternos, tendo para isso encontrado nos antepassados o acolhimento e o conforto que lhe possibilitaram recobrar e crescer enquanto pessoa.

Deste modo, esta obra efetua uma viagem ritual através do falatório das memórias. Também reconhece que a vida faz-se viajando, pois o Lugar d’Avós representa uma geografia dos afetos, onde o pequeno herói reorganizou a compreensão de si mesmo, permitindo-lhe prosseguir na existência assim desimpedida.

Lugar d’Avós apresenta um toque mágico, hipnótico e ao mesmo tempo reflexivo num espaço onde o coração juvenil desabrochou. Podemos ser pessoas simples e frágeis, mas ganhamos auto estima quando vivemos com resiliência e coragem, ao enfrentar as dificuldades da vida, auxiliados pela compaixão daqueles com quem partilhamos os momentos difíceis.



sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Recensão do “Alpinista Descendente”, de Carlos Amaral – por Tatiana Santos




 Carlos Couto Amaral, poeta? Filósofo? Performer? O tempo e a leitura crítica das suas obras o dirão.
Cabe-me a mim apenas refletir acerca do seu mais recente "Alpinista Descendente", que veio renovar os meus velhos hábitos de leitura, nomeadamente de poesia.

  Após navegar no mar profundo de significados e sentidos que cada poema oferece, após saborear as intensas sensações e sentimentos que as diversas palavras despertam, descobri que a poesia não é um mero exercício linguístico nem somente a mais encantadora maneira de exprimir o que aparenta ser inexprimível. A poesia do "Alpinista Descendente" é uma harmoniosa tentativa de congelar o tempo, por uns instantes, e captar o verdadeiro valor da vida. Mas, o mais incrível prende-se com o facto de Carlos Amaral comunicar as suas profusas ideias e pensamentos por meio de breves e sublimes vocábulos, que ganham cor e vida quando agrupados em "deliciosas" e intrigantes composições poéticas.

  Ainda antes de ler a obra, mal desfolhei a desfolhei, fiquei completamente rendida à original forma e estrutura externa de todos os poemas. À primeira vista este estilo poético, se assim o posso designar, parece ser deveras enigmático. Não obstante, o vazio das páginas é preenchido pela riqueza singular de cada verso. Com efeito, apercebemo-nos que há uma combinação, diria eu, perfeita entre o conteúdo de cada poema e a sua forma, ou melhor, há um fio condutor que percorre todos os poemas e as suas componentes formais. As palavras transparecem a magia da escrita e revelam o que vai na alma de Carlos Amaral, é através delas que o poeta se consegue libertar daquilo que não poderia ser dito de outro modo e, quem sabe, é também recorrendo à poesia que o escritor consegue descobrir-se e reinventar-se a si próprio, no sentido em que nos dá a conhecer a sua posição perante a vida e tudo aquilo que o faz querer viver.

  Assim que me debrucei sobre o livro, encontrei desde logo uma outra característica que me atraiu imensamente: o seu título, que manifesta uma agradável e aliciante sensação. O "Alpinista Descendente", tal como evidenciou Carlos Amaral é uma autêntica metáfora da vida, encontrando-se associada à atividade do montanhismo. O Alpinista busca novos desafios, pretende superar-se a si mesmo, quer chegar mais longe, ou melhor dizendo, mais alto e é neste misto de emoções e objetivos que a sua existência se propicia. Mas, o Alpinista depara-se frequentemente com uma grande quantidade de obstáculos e infortúnios e, consequentemente, nem sempre é possível chegar ao topo da montanha. Há quedas, há medos, há humanidade neste ato que se traduz num modo de viver...E que viver!

 Inicialmente, o Alpinista decide começar a sua escalada e num ato de coragem abraça a sua vida às cordas que o auxiliarão durante a ascensão. Aquando da subida, o vento traz o "Receio", a "Vertigem", as maiores incertezas, mas os elementos naturais apaziguam a viagem e transmitem-lhe confiança. São inúmeras as manifestações naturais que o "Alpinista Descendente" nos apresenta. A Montanha, o Sol, a Neblina, a Chuva, o Arco-Íris, as Nuvens, as Rosas, o Mármore, a Maré, a Lua levam-nos para um mundo paralelo e distante.
No entanto, a ascensão não é uma constante, uma vez que ao dar um "Salto no Escuro", o Alpinista está sujeito à "Queda" e ao "Abismo". Por outro​ lado, outros contratempos vão emergindo. O "Fluxo da Neblina", "O Ouvido da Solidão", a "Melancolia" e o "Sono" são algumas das adversidades que conferem ainda mais valor ao esforço do Alpinista e à força interior que o move.

  Carregado de metáforas e figuras estilísticas que embelezam extraordinariamente este trabalho poético com um carácter filosófico e transcendental, o "Alpinista Descendente" simboliza o caminho do homem nesta realidade que delimita a sua existência. A cada página desabrocha uma nova etapa,  uma experiência diferente, uma luta distinta, uma conquista derradeira,  uma breve derrota, um ideal tremulante, uma metamorfose espiritual, enfim...um novo ser!

  Estando em terra firme, observando aquilo que é fisicamente paupável, o sujeito poético descreve as mais diversas sensações e vertentes da vida, bem como os altos e baixos pelos quais todos passamos, por meio da atividade de um alpinista, que tanto ascende como descende. Ao longo deste caminho, o leitor é capaz de visualizar e sentir verdadeiramente tudo aquilo que é deslindado e cantado pelo poeta, sim cantado, uma vez que tal como declarou Jorge Ferro Rosa, as palavras deste trabalho poético "sabem a música!", e que bela música!

  Por outro lado, é notória a forma como esta obra nos agarra e nos deixa a pensar e, quem sabe, a divagar. Isto deve-se não só à magnífica vivacidade e dinamismo, marcados pela imaginação dinâmica e fugaz e simultaneamente perene de certos elementos, assim como pelo emprego de termos que marcam o próprio sensorialismo da linguagem e de vários recursos expressivos, como também à articulação legítima entre a objetividade e a subjetividade. A objetividade encontra-se presente principalmente no rigor da pormenorização, enquanto que a subjetividade está intimamente relacionada com a expressão de emoções que o eu lírico pretende transmitir, ou metaforicamente dizendo, com a emanação de delírios, desejos e aromas que  embelezam ainda mais esta composição poética.

  A descrição e a criatividade foram das características que mais me impressionaram nesta extraordinária obra, até porque todos os poemas, para além de serem originais e repletos de significado, abrem a mente do leitor, levando-o ao delírio genuíno do conhecimento e da busca pela essência de cada um deles, "Delira/ a mente/ o poema/ a casa/ a cidade", já que o poeta quer "(...) comunicar/ mas é loucura". E sem dúvida que é uma grande e majestosa loucura ir à aventura e levar-nos com ele a "procurar/ nos recantos do bar/ as terras do sem fim".

  Pessoalmente, o poema que mais emoções estéticas me provocou foi a "Intuição Poética", que, após nos encher a alma e o coração, nos convida de imediato a prosseguir com a leitura da obra. Neste tomo de poesia, Carlos Amaral interpreta a atividade e a intuição poéticas de um modo insigne e prodigioso.  O poeta do "Alpinista Descendente" sem dúvida  que "é um fragmento das estrelas/ é a gota do mar/ é a palavra emocionada" e deixa-nos completamente emocionados com tanta pureza e autenticidade que pode ser comparada à beleza do céu estrelado ou ao profundo oceano no qual mergulhamos em sonhos.

 Bem, mas deixemo-nos de metáforas por agora. Depois de percorridas a serra e a montanha, o "Alpinista Descendente" reserva-nos uma chegada "ao fim do mundo em demanda do desejo/ (...) em busca do instinto à flor da pele" e posteriormente somos confrontados com os "Trilhos do Amor", associados a um requintado "banquete de emoções".
Por fim, no seu último poema, o poeta reforça a importância que atribui à chegada de quem "Parte/ na descoberta maior", pois só chega quem realmente parte, quem não está presente e cuja ausência torna presente as recordações e as esperanças pela nova chegada.

  E é assim que termina esta incrível obra de poesia que merece um grande reconhecimento a todos os níveis. Sendo eu uma aluna do extraordinário autor do "Alpinista Descendente" e tendo em consideração o facto de ser uma grande apreciadora de poesia, embora  seja bastante suspeita de certo modo, fica o convite feito para a leitura deste delicioso livro, que como diz o ditado, dá vontade de comer e chorar por mais. Mas talvez o poeta nos queira deliciar e surpreender novamente, isto é, para o nosso bem espero que o escritor se volte a inspirar e a escrever as suas magistrais ideias metafísicas e existencialistas, que contrastam o mundo sensível com o mundo inteligível.

  Resta ainda dar os meus sinceros parabéns a Carlos Amaral por este seu incrível livro "Alpinista Descendente", que deve ser indubitavelmente lido,  relido e bem guardado na consciência de quem o lê.

           Sobreda, 18 de Junho de 2017
                                     Tatiana Santos

domingo, 18 de junho de 2017

Debate de Alpinista na comunidade de leitores do Feijó

  1. Na comunidade de leitores da biblioteca José Saramago do Feijó foi debatida a minha obra, Alpinista Descendente em 17 de junho de 2017. Descobri aspetos interessante sobre modos distintos de ser lido. Foi um momento intimista e fascinante, onde tive ainda ocasião de colocar em performance alguns poemas. Entre muitas surpresas registo o documento da BIA, que não podendo estar presente mandou ler o seguinte:
  2. «Quando pego num livro de poesia, não o leio de fio a pavio, vou folheando, olho para os títulos, leio aqueles que acho mais sugestivos. mais tarde leio outros. Como este é pequeno, já os li todos. A poesia é para se sentir, sem preocupações de entender literalmente o que o poeta escreve. Ele fala através das imagens, de símbolos, de metáforas e com a música das palavras. Neste caso, não posso dizer que entendi todas as mensagens. No global, apercebi-me que todos eles estão impregnados de uma linguagem em que a Natureza está sempre presente. também julgo ter percebido que em grande parte está refletido o sonho, em composição com a realidade, ou seja a vida. Daí o título? Talvez: o alpinista que sobe, sonha, sabendo de antemão que vai ser difícil alcançar o cume, e, atingindo-o ou não, vai confrontar-se com o real (...)» BIA.