domingo, 6 de março de 2022

 

 

In Contos Liliputianos, de Carlos A. Couto Amaral (no prelo)

O homem é o lobo do próprio homem – HOBBES (que imitou PLAUTO)

 

Carta aberta do lobo:

Caro Hobbes, ao afirmares que o homem é o lobo do próprio homem, espero que tenhas investigado o que pensam os lobos do assunto. Sentimo-nos ofendidos com a comparação. Os homens pensam que conto acontecimentos remotos de quando o homem dançava com os lobos.

Recordar que, no século XX, morreram mais homens nas guerras do que na restante história. É falsa a noção que a humanidade tem de si própria, acreditando que quanto mais ‘civilizada’, melhor se torna. É de lastimar a cegueira acerca de si própria. Sabias que, na alcateia, apenas acidentalmente um lobo mata outro lobo?

A máxima de Diógenes, o cínico, quanto mais conheço o homem mais gosto do meu cão, apela à amizade do fiel amigo. O cão é nosso parente, servil. O que nos distingue desde a narrativa é o facto de nós os lobos, preferirmos ficar esfomeados, mas sem a coleira ao pescoço. O homem só estima o que domina.

O lobo nunca compreendeu as contradições de se estar descontente ‘consigo’, ou com os iguais, talvez os pruridos poéticos sejam a vossa diferença. Os humanos conseguem ser díspares, apesar de existirem alguns que se acham mais diferentes dos outros, ou os que se acham mais iguais que todos. O homem tem a aprender com o que o assemelha e o diferencia, não queremos confusões, nem perder a identidade.

Se o homem fosse consciente das dimensões agressivas, abandonaria as imagens angelicais, repletas de moralismos (não estou a falar da ética que dignificam). Perceberiam que a agressividade sublimada gera a arte, o autodomínio, a estima, o respeito e a solidariedade. Encontremos um habitat, onde se sinta melhor, um ethos que origina a ética e representa o espaço familiar em que vos sentireis bem convosco, com os outros, com o cão, e porque não, com o lobo!

Assina: O lobo na toca do homem.

(A Filosofia do ponto de vista dos Animais, da editorial Floresta Queimada).

P.S. Eu e a bicharada deixamos um apelo: QUEREMOS CONFIAR NO HOMEM! SERÁ QUE PODEMOS CONTAR CONTIGO? Caso contrário, estamos tramados! E duvidamos que o Noé, velho como se encontra, tenha paciência para fazer outra arca, salvadora da bicharada e da humanidade, - o homem faz os disparates e todos arcamos com as consequências.