In Contos Liliputianos, de Carlos A. Couto
Amaral (no prelo)
O homem é o lobo do próprio homem – HOBBES (que imitou PLAUTO)
Carta aberta do lobo:
Caro Hobbes, ao afirmares que o
homem é o lobo do próprio homem, espero que tenhas investigado o que pensam
os lobos do assunto. Sentimo-nos ofendidos com a comparação. Os homens pensam
que conto acontecimentos remotos de quando o homem dançava com os lobos.
Recordar que, no século XX, morreram
mais homens nas guerras do que na restante história. É falsa a noção que a humanidade tem de si própria, acreditando que quanto
mais ‘civilizada’, melhor se torna. É de lastimar a cegueira acerca de si
própria. Sabias que, na alcateia, apenas acidentalmente
um lobo mata outro lobo?
A máxima de Diógenes, o cínico, quanto
mais conheço o homem mais gosto do meu cão, apela à amizade do fiel amigo.
O cão é nosso parente, servil. O que nos distingue desde a narrativa é o facto
de nós os lobos, preferirmos ficar esfomeados, mas sem a coleira ao
pescoço. O homem só estima o que
domina.
O lobo nunca compreendeu as
contradições de se estar descontente ‘consigo’, ou com os iguais, talvez os
pruridos poéticos sejam a vossa diferença. Os humanos conseguem ser díspares,
apesar de existirem alguns que se acham mais diferentes dos outros, ou os que
se acham mais iguais que todos. O homem tem a aprender com o que o assemelha e
o diferencia, não queremos confusões, nem perder a identidade.
Se o homem fosse consciente das
dimensões agressivas, abandonaria as imagens angelicais, repletas de moralismos
(não estou a falar da ética que dignificam). Perceberiam
que a agressividade sublimada gera a arte, o autodomínio, a estima, o respeito
e a solidariedade. Encontremos um habitat, onde se sinta melhor, um ethos
que origina a ética e representa
o espaço familiar em que vos sentireis bem convosco, com os outros, com o cão,
e porque não, com o lobo!
Assina: O lobo na toca do homem.
(A Filosofia do ponto de vista dos
Animais, da editorial Floresta Queimada).
P.S. Eu e a bicharada deixamos um
apelo: QUEREMOS CONFIAR NO HOMEM! SERÁ QUE PODEMOS CONTAR CONTIGO? Caso
contrário, estamos tramados! E duvidamos que o Noé, velho como se encontra,
tenha paciência para fazer outra arca, salvadora da bicharada e da humanidade,
- o homem faz os disparates e todos arcamos com as consequências.
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