O filme do cineasta colombiano Nilbio
Torres, Abraço da serpente, aborda a aventura
de um alemão Theo na busca de uma planta curandeira misteriosa: a yakruna, uma
droga com o poder simbólico e terapêutico de fazer sonhar. O explorador europeu
gravemente doente procura a ajuda do xamã Karamakate um dos últimos índios da tribo
Cohiuanos, para lhe servir de guia no percurso do rio Amazonas.
Mostra-nos como os índios nos
sonhos encontram soluções para as doenças do espírito. É uma psicanalise à medida
dos símbolos indígenas. Noutra história posterior o americano Evans, lendo os
diários de Theo procura ter mais êxito, na mesma demanda, por essas paragens
entretanto transformadas.
O filme realça o encontro de civilizações
no confronto do eu com o outro; a par, dos receios, incomunicações,
aproximações e afastamentos e do processo do esquecimento para assumir nova
identidade ("endoculturação").
Os índios acusam os brancos de trazem:
o domínio pela força, a guerra e a morte. É o caso dos seringueiros que
desapossam a dignidade, a identidade, escravizam, mutilam… Expropriam as matérias-primas
da floresta e o território. Rompem os equilíbrios, provocando hecatombes
sociais, cataclismos ecológicos e culturais. O abraço da serpente representa a alegoria simbólica de uma cultura
a estrangular e aniquilar outra.
No encontro do “eu” e do “outro”
surgem crises de aprendizagem entre civilizações diferentes. O índio auto despojado
de bens quer manter-se em sintonia com a floresta – preservar a cultura ecológica.
Por seu lado, Theo traz a bussola para se orientar – mas prefere perder a
amizade dos indígenas, do que ser desapossado desse utensilio. Justifica que
aqueles perderiam o modo natural de se orientarem, abandonando um património cultural
integrado na floresta.
O filme pela capacidade de nos
fazer pensar, atualiza a reflexão simbólica que se encontra nas nossas mentes em
estado de saturação. Propõe o despojamento libertador, uma viagem de purga e
catarse. É um filme obrigatório para detetarmos as raízes primitivas que ainda
estruturam a nossa mente profunda. Defende a preservação da diversidade das
culturas humanas, que ainda restam, por nos poderem ensinar muito acerca de
quem somos. Afinal, o que é o homem?
Sem comentários:
Enviar um comentário