domingo, 10 de abril de 2016

Abraço da serpente


O filme do cineasta colombiano Nilbio Torres, Abraço da serpente, aborda a aventura de um alemão Theo na busca de uma planta curandeira misteriosa: a yakruna, uma droga com o poder simbólico e terapêutico de fazer sonhar. O explorador europeu gravemente doente procura a ajuda do xamã Karamakate um dos últimos índios da tribo Cohiuanos, para lhe servir de guia no percurso do rio Amazonas.

Mostra-nos como os índios nos sonhos encontram soluções para as doenças do espírito. É uma psicanalise à medida dos símbolos indígenas. Noutra história posterior o americano Evans, lendo os diários de Theo procura ter mais êxito, na mesma demanda, por essas paragens entretanto transformadas.

O filme realça o encontro de civilizações no confronto do eu com o outro; a par, dos receios, incomunicações, aproximações e afastamentos e do processo do esquecimento para assumir nova identidade ("endoculturação").

Os índios acusam os brancos de trazem: o domínio pela força, a guerra e a morte. É o caso dos seringueiros que desapossam a dignidade, a identidade, escravizam, mutilam… Expropriam as matérias-primas da floresta e o território. Rompem os equilíbrios, provocando hecatombes sociais, cataclismos ecológicos e culturais. O abraço da serpente representa a alegoria simbólica de uma cultura a estrangular e aniquilar outra.

No encontro do “eu” e do “outro” surgem crises de aprendizagem entre civilizações diferentes. O índio auto despojado de bens quer manter-se em sintonia com a floresta – preservar a cultura ecológica. Por seu lado, Theo traz a bussola para se orientar – mas prefere perder a amizade dos indígenas, do que ser desapossado desse utensilio. Justifica que aqueles perderiam o modo natural de se orientarem, abandonando um património cultural integrado na floresta.

O filme pela capacidade de nos fazer pensar, atualiza a reflexão simbólica que se encontra nas nossas mentes em estado de saturação. Propõe o despojamento libertador, uma viagem de purga e catarse. É um filme obrigatório para detetarmos as raízes primitivas que ainda estruturam a nossa mente profunda. Defende a preservação da diversidade das culturas humanas, que ainda restam, por nos poderem ensinar muito acerca de quem somos. Afinal, o que é o homem?

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