Os
músculos tensos
vencem
as alturas
o
espírito encontra
a
dádiva no ar rarefeito
O
Alpinista Descendente de Carlos Couto Amaral, trazido a público pelas Edições
Colibri, trata estados emocionais experienciados
entre píncaros e vales: na Estrela ascende com quatro estações num dia; nos
Picos da Europa escala entrincheirado entre ravinas; alcançando nos Alpes a vertigem
e a beleza que sacodem o aventureiro. Na viagem pelas montanhas busca a
plenitude, as sensações naturais, a serenidade. O Alpinista abandona o frenesim urbano e alcança o
que ambiciona: neblinas, córregos de água, plantas exóticas, sons bucólicos,
ares rarefeitos, tranquilidade… Renova a ousadia e a entrega nas arriscadas sendas,
que aliviam a alma do peso e da saturação. Enfim os sonhos concretizados reforçam
a vontade. E, as narrativas poéticas lapidam sensações brutas.
O
poeta
é
um fragmento das estrelas
é
a gota do mar
é
palavra emocionada
O
Alpinista Descendente
faz a apologia de Sísifo feliz, nos
atos que trazem ao homem certa grandeza, mesmo que vã, consciente dos esforços na
ausência de transcendência. O mesmo é dizer que superamos o absurdo através
do esforço e da luta.
Em
queda
Sísifo
encontra motivos
no
intervalo proibido
O
Alpinista Descendente,
com o despojamento, na ascensão liberta-se do peso; já ao descer integra o pensamento,
aligeirando o mundo das fragas vencidas.
Desce
à
planície
alegria
sem
peso
O poeta concretiza a viagem
simbólica… O Alpinista Descendente
quer ar puro, a renovação, ampliando horizontes que dilatem a alma:
irei
ao começo dos tempos em demanda do segredo
irei
ao cume da montanha em demanda da aurora
A cinestesia identifica a
dinâmica da aventura na demanda que cruza desejos, ideais, sensações, imagens. No
quarto livro poético, Carlos Couto Amaral apostou na depuração estética, na
quase ausência de pontuação, e na verticalidade da escrita sob a analogia do
percurso escarpado.
Sonha
Ícaro
a
furtar
a
cera
às
abelhas
e
a altura
em
metamorfose
escuta
atrás
das
portas
invisíveis
O alvoroço da escalada liberta
adrenalina. Na disputa com o gigante o prazer é proporcional ao esforço. Há um
deslize de palavras colhidas na inspiração do acaso. A serra sem um caderno pode
tornar-se esmagadora, mas a vontade da montanha exprime-se por meio do poeta, superando
opressões e receios.
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