quinta-feira, 8 de abril de 2010

SERENO FLUIR DAS HORAS

Sereno Fluir das Horas, ainda editado na Colibri, percorreu feiras do livro, tertúlias e declamações; com alegria, suor e exaustão, destacando-se a saudosa Pantónica III, patrocinada pelo teatro Tapafuros – descobrimos potenciais, que a mente no acto da escrita não ousara... “Apareces e contigo o mundo vem beijar-me o olhar”. Se os meios de comunicação não lhe deram relevo, perderam eles por não terem reconhecido uma escrita que é dita um pouco em eco na pátria da língua portuguesa.

Escutemos Jorge Ferro, “Nesta plenitude de múltiplas sensações presenciadas nestes versos, assistimos à invasão do eu, numa descoberta de directrizes do humano, entre o mistério do nada e a possibilidade do ser. Este fluído originário que transporta Carlos Amaral está embutido de contrastes, de centelhas virtuosas e de enigmas que encarnam a existência humana.”

Com efeito, o poeta, “(Des)Norteado”, faz o seu percurso interior na demanda da profunda consciência do eu. É uma viagem na ânsia de fruir a brandura do tempo. Na sua procura, este construtor do cosmos surpreende, a constante mutação do verso no desconcerto semântico na busca do sentido. Assim, ele burila a palavra, na contínua e mística demanda do renovado gesto da criação.

A propósito Conceição Marques mimou-me com palavras belas: “A visão do amor em Carlos Amaral é sempre uma visão primordial e sagrada. Cada reciprocidade amorosa transporta a bênção do princípio do mundo. Como se cada encantamento condensasse em si a beleza, o encanto festivo, a leveza doce e idílica do primeiro gesto de amor.”

COM TERNURA
Terás sempre a inocência no olhar
como quem me quer saborear?

Ao teu lado apetece a eternidade.
Apetece ganhar-te o secreto amor,
abençoando esse modo delicado de ser
como se o desejo em ti fosse beber...

Contigo apetece o espanto do despertar.
Dando-te o céu e a lua,
pois se te olho, a riqueza do mundo
é minha, e muito mais tua!

(DES) NORTEADO
Nas páginas em branco
como areias do deserto
as pegadas da serpente
nas intuições do poeta
contam sinais do vento
até os apagar o tempo.

Mesmo que ninguém me oiça.
Digo! E assim fica dito!

Estou num ponto, sem estrela Polar
e sem Cruzeiro do Sul,
que Oriente a aventura na mente,
se mente mesmo se pensa dizer a verdade!

Há algum atalho que dê o NORTE à bússola
e o chão ao abismo?

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